domingo, junho 27, 2004

vou embora...

(...históriasdencantar...paraosmeninosemeninas...)




vou-memboraparapasárgada...

longedemimpensarquesóvoueu...

nadadissoapesardetudo...aindahámanadas

quenãoquermverestefilmenestaselvaimpuradofazdeconta


lásouamigadorei



aquieutambém...nãosoufeliz...

láviveréumadoceaventura
ládáparabrincardeverdade


arotinaobrigatórialánãoexiste



possobailarcomocantodopássaro



oprimeiroministrobrincacomostalheres

eéumgajofixe...nemseiseeleéprimeiroministro...devesersódebrincar...
epensamuitomuitonosoutrosanimais...

látambémexisteumespelho...ondetodososanimais...
seolhamcomregularidade

ninguémseescondeoufoge

opovoétodofeliz


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira



Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada



Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive



E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

" Lá sou amigo do rei"

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


-------------------------------------

...lá...




possobailarcomocantodopássaro

sábado, junho 26, 2004

ONDE

Entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?

Entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?

Entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?

Entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?


zila

quarta-feira, junho 23, 2004

quinta-feira, junho 17, 2004


Detail of Aristides de Sousa Mendes Memorial at the station hall,
by João Cutileiro.
Photo by Arnaldo Sousa.

aristides

quarta-feira, junho 16, 2004

Memória


Inimá de Paula, oléo sobre tela, 1987
(1902-1987)


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Zona norte, zona sul


Georges Rouault
Título: "Mulher Nua Arrumando-se"
(Expressionista francês)


Aconteceu o seguinte: Vânia finalmente cedeu e concordou em
se encontrar com Rogério num apartamento em Copacabana.
Mas insistiu na segurança absoluta.
Ninguém poderia vê-la chegar ou sair do prédio.
Se o seu marido descobrisse, se o seu marido sequer desconfiasse...
Rogério jurou que ninguém a veria.

- A rua tem pouco movimento. O porteiro é pago por mim
para não enxergar nada. Os vizinhos de um lado só estão
em casa de noite. Os vizinhos do outro lado da rua
nunca aparecem.
Acho até que o apartamento está vazio. Não tem perigo.
Confia em mim.

Combinaram a Operação Encontro
- ou a Operação Até Que Enfim, como a chamou Rogério
- minuciosamente.
Ela diria ao marido que iria a Copacabana fazer compras.
Contando o tempo de ida e volta ao Grajaú, de ônibus,
eles teriam duas horas inteiras. Das seis às oito.
Ela chegaria ao prédio sozinha, de óculos escuros e
lenço na cabeça, e subiria ao seu apartamento.
Ele estaria esperando. Certo? Vânia ainda hesitou.
- Ai, meu Deus. O Antônio. As crianças...
Se alguém descobrir.

Ninguém ia descobrir. Ninguém ia vê-la.
Teriam duas horas maravilhosas. Longe do mundo,
longe dos olhos e das línguas do Grajaú.
Vânia suspirou e cedeu. Seis horas, então.

Às seis horas, Vânia bateu na porta do apartamento
de Rogério.
Além dos óculos escuros e do lenço na cabeça,
usava a gola do casaco virada para cima e
uma manta tapando o nariz e a boca.
Todos tinham se virado na rua para olhar
aquela mulher tão agasalhada, apesar do calor,
e esforçando-se para não ser notada.

Ela estava nervosa. "Ai meu Deus! Se o Antônio sabe..."

Rogério a acalmou. Levou-a para o quarto.
Começaram a tirar a roupa.
Nisso, ouviram um rebuliço no corredor. Gritos, correria.
Vânia arregalou os olhos.

- É o Antônio!

- Não pode ser. Calma. Vou ver o que é.

Rogério já estava no meio da sala, de cuecas,
quando ouviu baterem na porta. Com violência.
Hesitou. Não podia ser o marido. Impossível.
E aquela barulheira...
Só se ele tivesse trazido todo o Grajaú com ele.
Uma expedição punitiva pela honra do bairro.
Vou ser linchado, pensou Rogério.
Desmembrado pela classe média.
Um mártir da nova moral.
O primeiro santo pagão da Zona Sul...
E então, entre batidas mais fortes na porta, ouviu:

_ Abra! É a polícia! Abra senão arrombamos a porta!

Rogério abriu a porta. Foi jogado contra a parede
por uma avalancha de homens armados de metralhadora,
aos gritos. ?Revistem tudo. Vejam na cozinha! Rápido!!
Rogério gritou mais alto. Queria saber do que se tratava.
O inspetor disse que tinham invadido o apartamento do Gatão,
ao lado do seu, mas ele conseguira fugir pela área de serviço.
Estava ali. E eles o pegariam. Gatão,
o bandido mais procurado do Rio. Desta vez não escaparia.

Os policiais que entraram no quarto abriram a porta
de um armário e encontraram Vânia, seminua e apavorada.

- Aqui está ele! - gritou um policial, exaltado,
antes de se dar conta que não era o Gatão,
era uma mulher, e soltá-la.

Vânia saiu correndo do quarto.
Atravessou gritando a sala sem saber se tapava o rosto
ou os seios. Entrou na cozinha e caiu nos braços do Gatão.

Quando Rogério e o inspetor irromperam na cozinha atrás dela,
Gatão a segurava pelas costas e tinha
a ponta de uma faca encostada na sua garganta.

- Mais um passo e eu furo! Mais um passo e eu furo!

O inspetor fez um gesto para deter
os policiais que entravam na cozinha. Falou:

- Certo, Gatão. Certo. Não fura a dona. Vamos conversar.

Gatão mandou todo mundo sair da cozinha.
Se comunicaria com eles por intermédio de Vânia.
Enfiou a cabeça de Vânia pela porta entreaberta
da cozinha e mandou que dissesse que ele
exigia um carro para sair dali. Senão a degolaria.
Vânia gaguejou. Não conseguia falar. Rogério disse:

- Calma, Vânia. Calma. Confia em mim.

Vânia finalmente conseguiu transmitir a exigência
do bandido. O inspetor mandou dizer que estava certo.
Providenciaria o carro. Mas precisava de tempo.
Chegaram fotógrafos e repórteres. Quando Gatão
empurrou a cabeça de Vânia para fora da cozinha
outra vez, já havia uma equipe da TV com câmara
portátil e refletores dentro do apartamento.

- E-ele di-diz que espera cinco minutos e s-só!
- disse Vânia, apertando os olhos por causa dos refletores.

O repórter da TV colocou um microfone perto da sua boca.
Gatão puxou Vânia para dentro da cozinha. Os repórteres
entrevistaram Rogério. Quem era a moça?
Uma amiga...? Namorada? ?Mais ou menos?.
O inspetor mandou dizer ao Gatão que o carro estava pronto.
Gatão saiu da cozinha com um braço em torno da cintura nua
de Vânia e com a faca no seu pescoço.
Se alguém se mexesse, ele furava.

- Calma, Vânia. Calma. Confia em mim -
disse Rogério. Tinha os olhos arregalados.

Gatão desceu com Vânia pela escada.
A câmara da TV seguiu atrás. Na rua havia uma multidão.
Um policial ia na frente afastando os curiosos.

- Para trás, senão ele fura a dona!

- É o Gatão! É o Gatão. Esse ninguém pega.

Gatão entrou com Vânia no carro.
Mandou que o carro arrancasse.

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No Grajaú, as crianças gritaram:

- Papai, olha a mamãe na televisão!

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Em algum ponto do Estado do Rio,
Gatão mandou que o carro parasse.
Deu ordens ao chofer para apagar os faróis,
esperar 15 minutos e depois dar o fora.
Senão ele furava a Vânia.
Desceu com Vânia do carro e a puxou
através de um matagal na escuridão.

- Eles nunca vão me pegar. Nunca. Vou desaparecer.

Quando Gatão largou o pulso de Vânia
e disse que ela estava livre e que arranjasse
uma maneira de voltar para casa, Vânia pensou
no Antônio, pensou no Grajaú, e suplicou:

- Me leva com você! Me leva com você!

Hoje vive com Gatão em Rezende e jamais o trai.
Aprendeu sua lição.

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Ou então: Vânia só chegou em casa no outro dia de manhã.
Pronta para tudo. Pronta para morrer.
Merecia tudo que o Antônio faria com ela.
Na calçada, em frente à sua casa,
ouviu o comentário de uma vizinha:
- Aí, hein, Vânia? Na televisão.

As crianças vieram correndo, excitadas:

- Mamãe! Você apareceu na televisão!

E atrás das crianças veio o Antônio,
orgulhoso, sorridente.

- Na televisão, hein? Sim senhora. Parecia a Dina Sfat!



Prosa


Luis Fernando Verissimo


É um dos melhores, mais prolíferos
e populares cronistas brasileiros contemporâneos.
Filho do escritor Érico Verissimo,
iniciou sua carreira jornalística em 1966
no jornal Zero Hora, onde trabalhou como
copidesque, redator e editor antes de assumir
uma coluna diária em 1969. No início da carreira,
trabalhou também como tradutor e redator
de textos publicitários. A partir de 1970,
iniciou colaboração com a Folha da Manhã,
mais tarde Folha de S. Paulo. Seu primeiro
livro, O Popular, uma coletânea de crônicas
e cartuns, saiu em 1973. Na década de 1980,
publicou vários livros que se tornaram best-sellers,
como O Gigolô das Palavras (1982)
e O Analista de Bagé (1981), que em 1995
chegou à centésima edição com mais de 500 mil
exemplares vendidos. Na televisão, escreveu
quadros para o programa humorístico Planeta
dos Homens, exibido pela Rede Globo na década
de 1970, e, mais recentemente, para a série
Comédias da Vida Privada, baseada em histórias
de sua autoria. Em 1988, publicou O Jardim do
Diabo, seu único romance. Ao conjugar o pensamento
cristalino com uma escrita ágil e precisa, suas crônicas
percorrem temas que vão do comportamento cotidiano
à literatura, do esporte à política, em tons que
variam do humor ligeiro aos momentos de amargor
e desilusão com as iniqüidades da sociedade brasileira.

terça-feira, junho 15, 2004

Conheça Algumas Ervas Aromáticas


Manjericão

Fitoterapia


Originário da Índia, o manjericão também vem de países do Norte Mediterrâneo, onde era chamado como ''Erva dos Reis'' pelos antigos gregos. O manjericão tem propriedades analgésica, digestiva e diurética, além disso, combate a dor de cabeça nervosa, enxaqueca e gastrite. Ele alivia enjôos, vômitos e dores de estômago. O chá das folhas é bom para debilidade geral e contra gases intestinais. Gargarejos e bochechos com o chá morno fazem sumir as aftas.

Gastronomia


Erva tradicional da cozinha internacional. O manjericão é muito usado na preparação de recheios, em pizzas, massas, assados, sopas, queijos e carnes. Ele é muito bem misturado com outras ervas e confere um toque todo especial ao molho de tomate. Também pode ser usado diretamente nas saladas, onde sua aplicação mais popular é na conhecida salada caprese.

Coentro

Fitoterapia

Já era usado no Antigo Egito e na China, quando acreditava-se que essas sementes guardavam o segredo da imortalidade. O coentro tem função anti-séptica, antiácida, digestiva e sudorífera. Estimulante, ele fortifica o estômago; é bom contra gases; seu pó aplica-se em picadas de cobra e dores histéricas; é febrífugo, afugenta os vermes intestinais. O seu chá tem efeito sedativo.

Gastronomia


Com um leve sabor de limão, use o coentro para temperar carne para churrasco, frango, peixe ensopado e vinha-d'alhos.
Não confunda o coentro (tempero concentrado) com folha de coentro que, apesar de vir da mesma planta, tem sabor diferente, muito mais ativo.

Orégano


Fitoterapia


Utilizada como tempero, ela estimula o apetite e facilita a digestão, tem também função sudorífera e expectorante. Ajuda a curar tosse, dor de cabeça, causada por nervosismo e irritação. Atenção, ela não deve ser usada na gravidez. O chá de orégano também é usado contra enjôo do mar. Ele é bom também para massagear o ventre, no caso de cólicas e gases intestinais. Seu chá é sudorífero. Cataplasma de suas folhas acalma as dores reumáticas.

Gastronomia


Da mesma família da manjerona, o orégano é importado do México e do Chile.
É tradicionalmente utilizado para aromatizar as pizzas de um modo geral e a napolitana em particular. Use-o no feijão branco, na berinjela, em temperos básicos para frituras, nas azeitonas pretas, nos queijos para aperitivos com óleo e pimenta calabresa.

Açafrão


Fitoterapia

Já era conhecido e usado desde o tempo dos egípcios, gregos e romanos. Usam-se os estigmas em chá ou cozimento para combater gases intestinais, doenças dos rins, perturbações nervosas, tosse e bronquite. A raiz é diurética, digestiva e acelera a circulação. Em doses elevadas produz embriaguez e delírio.
É preciso cuidado.

Gastronomia

O açafrão é o estigma de uma flor de cor clara, usado como condimento e aromatizante e muito usado na cozinha medieval. O autêntico custa caro! É preciso colher 100 mil flores para conseguir 5 kg de estigmas, que, quando secos, são empacotados inteiros ou em pó. É a alma da bouillabesse (sopa de peixe francesa originária de Marselha), da paella (espécie de risoto espanhol) e do 'risotto alla milanesa' (o risoto de arroz italiano com açafrão).

Louro


Fitoterapia


Dela, diz-se ser a mais nobre das árvores. É o símbolo da vitória, da glória e da paz. O louro possui propriedades anti-sépticas e é usado como aromatizante, estimulante do apetite e calmante. Além disso, suas folhas e frutos são muito usados na cozinha. O louro confere aos alimentos melhores gosto e perfume. Favorece a digestão, melhora o apetite e combate os gases intestinais. Das bagas, extrai-se um óleo com o qual se preparam pomadas e linimentos. É muito bom também para fricções contra o reumatismo e aplicar em contusões e hemorróidas. A maceração das folhas e dos frutos é usada para banhos, dando efeito calmante. Seu cozimento serve também para banhar e combater o suor dos pés, evitando-se o mau cheiro

Gastronomia


Pequena árvore originária do Mediterrâneo. Adapta-se bem em regiões de clima temperado. Ele também é utilizado em pó ao invés de suas folhas. É um bom ingrediente no feijão, em sopas, com carnes, assados, frutos do mar e no cozimento de castanhas.

domingo, junho 13, 2004

L'HOMME SUR LA PHOTO- manuel de photoethnographie-Luiz Eduardo Robinson Achutti

Lolita obrigado por divulgar meu livro!
Boa semana.
Beijos.
Luiz Achutti.

PS: Lolita vai uma parte do As multidões de Baudelaire, que eu traduzi, espero que bem traduzido.

As multidões


(...)

Multidão, solidão: termos iguais e convertíveis para o poeta fecundo e ativo. Aquele que não sabe povoar a sua solidão, também não sabe estar só em meio a uma multidão de pessoas ocupadas.



O poeta goza deste incomparável privilégio, o de poder ser, segundo sua vontade, ele próprio ou o outro. Como as almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando quer, no personagem de cada um. Apenas para ele, tudo é desocupado, livre; e se certos lugares parecem estar fechados para ele, é porque aos seus olhos eles não valem a pena ser visitados.(...)



O que os homens chamam amor é muito pequeno, bem restrito e bem fraco, se comparado a esta inefável orgia, a esta santa prostituição da alma que se dá por inteira, poesia e caridade, ao imprevisto que se mostra, ao desconhecido que passa.(...)



Baudelaire, Le Spleen de Paris.

Mulher, sua origem e seu fim

Existem várias lendas sobre a origem da Mulher. Uma diz que Deus pôs o primeiro homem a dormir, inaugurando assim a anestesia geral, tirou uma de suas costelas e com ela fez a primeira mulher.

E que a primeira provação de Eva foi cuidar de Adão e agüentar o seu mau humor enquanto ele convalescia da operação.

Uma variante desta lenda diz que Deus, com seu prazo para a Criação estourado, fez o homem às pressas, pensando "Depois eu melhoro", e mais tarde, com o tempo, fez um homem mais bem-acabado, que chamou Mulher, que é melhor" em aramaico.

Outra lenda diz que Deus fez a mulher primeiro, e caprichou nas suas formas, e aparou aqui e tirou dali, e com o que sobrou fez o homem só para não jogar barro fora.

Em certas tribos nômades do Meio Oriente ainda se acredita que a mulher foi, originariamente, um camelo, que na ânsia de servir seu mestre de todas as maneiras foi se transformando até adquirir sua forma atual.

No Extremo Oriente existe a lenda de que as mulheres caem do céu, já de kimono.

E em certas partes do Ocidente persiste a crença de que mulher se compra através dos classificados, podendo-se escolher idade, cor da pele e tipo de massagem.

Todas estas lendas, claro, têm pouco a ver com a verdade científica.

Hoje se sabe que o Homem é o produto de um processo evolutivo que começou com a primeira ameba a sair do mar primevo, e é descendente direto de uma linha específica de primatas, tendo passado por várias fases até atingir o seu estágio atual - e aí encontrar a Mulher, que ninguém ainda sabe de onde veio.

É certamente ridículo pensar que as mulheres também descendem de macacos.

A minha mãe, não! Mas de onde veio a primeira mulher, já que podemos descartar tanto a evolução quanto as fantasias religiosas e mitológicas sobre a criação?

Inclino-me para a tese da origem extraterrena.

A mulher viria (isto é pura especulação, claro) de outro planeta. Venho observando-as durante anos - inclusive casei com uma, para poder estudá-las mais de perto - e julgo ter colecionado provas irrefutáveis de que elas não são deste mundo.

Observei que elas não têm os mesmos instintos que nós, e volta e meia são surpreendidas em devaneio, como que captando ordens de outra galáxia, embora disfarcem e digam que só estavam pensando no jantar.

Têm uma lógica completamente diferente da nossa.

Ultimamente têm tentado dissimular sua peculiaridade, assumindo atitudes masculinas e fazendo coisas - como dirigir grandes empresas e xingar a mãe do motorista ao lado - impensáveis há alguns anos, o que só aumenta a suspeita de que se trata de uma estratégia para camuflar nossas diferenças, que estavam começando a dar na vista.

Quando comentamos o fato, nos acusam de ser machistas, presos a preconceitos e incapazes de reconhecer seus direitos, ou então roçam a nossa nuca com o nariz, dizendo coisas como "ioink, ioink" que nos deixam arrepiados e sem argumentos.

Claramente combinaram isto. Estão sempre combinando maneiras novas de impedir que se descubra que são alienígenas e têm desígnios próprios para a nossa terra. É o que fazem quando vão, todas juntas, ao banheiro, sabendo que não podemos ir atrás para ouvir.

Muitas vezes, mesmo na nossa presença, falam uma linguagem incompreensível que só elas entendem, obviamente um código para transmitir instruções do Planeta Mãe.

E têm seus golpes baixos. Seus truques covardes. Seus olhos laser, claros ou profundamente escuros, suas bocas. Meu Deus, algumas até sardas no nariz.

Seus seios, aqueles mísseis inteligentes. Aquela curva suave da coxa quando está chegando no quadril, e a Convenção de Genebra não vê isso! E as armas químicas - perfumes, loções, cremes.

São de uma civilização superior, o que podem nossos tacapes contra os seus exércitos de encantos?

Breve dominarão o mundo.

Breve saberemos o que elas querem.

E depois de sair este artigo eu for encontrado morto com sinais de ter sido carinhosamente asfixiado, com um sorriso, minha tese está certa.


Luíz Fernando Verissimo

Este é o Mote: Vote

Este é o mote: vote.
Estamos todos no mesmo bote.
Vote.
Escolha o menos fracote
e vote.
Já não se votou no Lott?
Pois vote.
Não anule nem faça trote.
Vote.
Pelas barbas do Quixote,
vote!
Não picote o papelote.
Vote.
Tire os nomes de um pote.
Ou do decote.
Mas vote.
Não passa na glote?
Não faz mal.
Vote.
Você preferia ficar em casa ouvindo o Concerto em Dó Maior de
Johann Gottfried Munthel para Orquestra, Baixo Contínuo e Fagote?
Tomando um scotch?
Esquece.
Vote.
Vote em sacerdote,
Ou em hotentote.
Mas vote.
Vote me cocote.
(Mas não em iscariote.)
Mas vote.
Não fique aí pensando "to be or not".
Vote!
E, se no fim faltar rima, não se apague.
Sufrague.

Luis Fernando Veríssimo

é o queu penso!

ok eusouassim mesmo :))




vivóportocarago!

é regar e pôr ao luar!




MANJERICO - Ocimum minimum L.


Nome vulgar: Manjerico
Família: Labiatae

Morfologia
Planta de caule pubescente, finamente estriado, quadrado, ramoso, verde-claro; folhas ovadas, verde-claras, com cheiro intenso (quando tocadas); flôr em fascículos, aromáticas.

Ecologia
Cultura frequente nos jardins e em vasos por altura das festas de Santo António de Lisboa (13 de Junho).

Fenologia
Fim do Verão.

Utilização
Ornamental e aromático. Proveniente da Índia e aí usado nos rituais sagrados.

Cultura em local com sol quente. Proteger do vento, da geada e do sol muito quente do meio-dia. Solo bem arejado e húmido. Semear em local aquecido.

Ela continua dependurada na alma dos Portugueses...

quinta-feira, junho 10, 2004

" Ó noite, porque hás-de vir sempre molhada!
Porque não vens de olhos enxutos
e não despes as mãos
de mágoas e de lutos!

Poque hás-de vir semimorta,
com ar macerado e de bruxedo,
e não despes os ritos, o cansaço,
e as lágrimas e os mitos e o medo!"


Fragmento - Ó noite, porque hás-de

Eugénio

O Último Poema

" Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."

manuel bandeira


terça-feira, junho 08, 2004

embrasa...

deambulamos

pelos cheiros
pelos sabores
pelos encontros

lembramos

desencantos
desencontros
lutos

que enfeitamos com azeitonas...

e

r
e
g
a
m
o
s

com



Monte Velho



aquecemos a alma
com a brasa
assando

momentos

a cheirar

erva cidreira
a bailar em manjerico

misturamos

riso
lágrimas
pimentos e cebola

e juntamos

o acontecer ao caldo verde

que se embebedava...

eufórico
tropeçando

em rodela de chouriço


tucha
aldinha
zézé "que ofereceu o jantar em Matosinhos"
daniel

que não ficou pelos polinsaturados
e quis
brincar às fêveras

eamim

que namorei o lume...

a despertar sentires

subindo em silêncio...

crepitando música...
embalada


pelo sopro...



SPEED DIAL NO.2

domingo, junho 06, 2004

ensina-meavoar...










...históriasdencantar...parameninosemeninas...

...históriasdencantar...parameninosemeninas


voutomarbanhodespuma
...resfastelarnopuf...
paradepoisir
fazermarchanafoz...

3

L..... fotografei em entrevista a Elis na última vez que veio a Porto Alegre antes de morrer. Vou procurar a foto no escritório e te mando.
Beijos.
LuizAchutti

PS: Depois do anuncio da sua morte eu fui para o laboratório, enquanto a foto surgia mergulhada no revelador me veio a cabeça a seguinte frase sobre o artista:

Aquele que reinvente a vida para que a morte possa parecer brincadeira.

Vou procurar a foto.

3


Vai a Elis...

L..... fotografei em entrevista a Elis na última vez que veio a Porto Alegre antes de morrer. Vou procurar a foto no escritório e te mando.
Beijos.
LuizAchutti

PS: Depois do anuncio da sua morte eu fui para o laboratório, enquanto a foto surgia mergulhada no revelador me veio a cabeça a seguinte frase sobre o artista:

Aquele que reinvente a vida para que a morte possa parecer brincadeira.

Vou procurar a foto.

Vai a Elis ...



Outra da Elis

L..... fotografei em entrevista a Elis na última vez que veio a Porto Alegre antes de morrer. Vou procurar a foto no escritório e te mando.
Beijos.
LuizAchutti

PS: Depois do anuncio da sua morte eu fui para o laboratório, enquanto a foto surgia mergulhada no revelador me veio a cabeça a seguinte frase sobre o artista:

Aquele que reinvente a vida para que a morte possa parecer brincadeira.

Vou procurar a foto.


Outra da Elis



....NÃOTESQUEÇASDEMIM...DIZESMUITASVEZES...


....históriasdencantar...parameninosemeninas...



nãomeprendasnocopodecristal

deixa-meserlivresempredependuradaporumfio

espreitaresaltaromundo


mastambém

nãomodeixescarregar


oufazerdelemeuinstrumento

mesmocantandoatuacanção..



e


tocaparamim





vou
gostardeteouvir...


emsilêncio...

sábado, junho 05, 2004

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.


E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.


Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia

UM AMOR FELIZ



...a maravilha que deve ser escrever um livro: a invenção dentro da memória;a memória dentro da invenção: e toda eesa cavalgada de uma grande fuga,todo esse prodígio de umas poligâmicas núpcias, secretas e arrebatadas, com a feminina multidão das palavras: as que se entregam,as que se esquivam;as que é preciso perseguir;seduzir;ludibriar; as que por fim se deixam capturar, palpar, despir, penetrar e sorver, assim proporcionando, antes de se evaporarem, as horas supremas de um amor feliz. Não há matéria mais carnalmente incorpórea; nem outra mais disposta a por amor ser fecundada.

(in Um Amor Feliz, p.229,pp.119-121

sexta-feira, junho 04, 2004

Vou procurar a foto

L..... fotografei em entrevista a Elis na última vez que veio a Porto Alegre antes de morrer. Vou procurar a foto no escritório e te mando.
Beijos.
LuizAchutti

PS: Depois do anuncio da sua morte eu fui para o laboratório, enquanto a foto surgia mergulhada no revelador me veio a cabeça a seguinte frase sobre o artista:

Aquele que reinvente a vida para que a morte possa parecer brincadeira.

Vou procurar a foto.

Maria Rita Mariano

...Elis tinha tudo para se tornar mais uma professora da classe média gaúcha: pobre, estrábica, filha de uma dona de casa e de um operário, morando numa remota cidade do último Estado do sul de um abandonado País do Terceiro Mundo. Com que direito ela poderia imaginar ser outra coisa? O direito de possuir a voz mais bela que este mesmo País já ouviu. Elis transformou a sua voz no seu mote. Era com ela que iria conquistar o mundo, e fez isto brilhantemente...


Envolveu-se com tudo de forma radical - com a música, com a política, com a vida. Maldita para muitos, Elis tinha sempre a frase certeira, a mente afiada, propósitos firmes: 'Cara feia pra mim é bode... Sou mais ardida que pimenta!'.''


É de sonho e de pó
O destino de um só
feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló dessa vida
Cumprida a sol

Refrão
Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida
Sou caipira pira pora Nossa senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida

O meu pai foi peäo, minha mäe solidäo
Meus irmäos perderam-se na vida em busca de aventuras
Descansei, joguei, investi, desisti
Se há sorte, eu näo sei, nunca vi

Refrão

Me disseram porém, que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece paz nos desaventos
Como eu näo sei rezar
Só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar






Elis Regina

quinta-feira, junho 03, 2004

um rosto queimado pelo sonho

surviving

leica gallery

O viravento com papel de revista



MATERIAL:

· Um quadrado de papel de revista

· Um pauzinho

· Uma tesoura

· Uma régua

· Uma rodela cortiça

Um alfinete


Recorta um quadrado e marca as diagonais.


Corta a partir de cada canto até metade da linha no ponto central

Dobra as partes e fixa-as no centro. Coloca a rodela de cortiça e prega-a ao pauzinho com um alfinete.

quarta-feira, junho 02, 2004

São João no Porto



São João, p'ra ver as moças,
fez uma fonte de prata.
As moças não vão à fonte,
São João todo se mata.


quadra popular tradicional,
autor desconhecido

entrevista

O MENINO DA FOTO

Ontem abri o guia telefônico de Paris para procurar o seu telefone e como previa não o encontrei. Se tivesse encontrado teria feito, apesar dos meus 40 anos, como fazem os meninos quando procuram seus ídolos. - Não consigo mais acreditar em grandes utopias e também não consigo mais ter ídolos, apenas pessoas as quais admiro e respeito, e o senhor é uma delas. - Se tivesse encontrado seu telefone, teria dito-lhe que sou um fotografo brasileiro, gaúcho do sul do Brasil, morando em Paris e que gostaria de conhecer-lhe, poder falar-lhe uns minutos e dar-lhe um livro com minhas fotografias.

Se tivéssemos tido algum tempo eu teria falado um pouco sobre meu avô, Bortolo Achutti, já falecido que estaria com cem anos. Teria contado-lhe que meu avô, também fotografo, morou toda a vida no interior do Rio Grande do Sul e que morreu tendo seu trabalho reconhecido apenas localmente. Eu teria dito ao senhor que comecei na fotografia por influência de meu avô e que continuei por indireta influência sua. Eu teria decorado para repetir-lhe o que escreveu Steichen: "a fotografia não saberia ser mais útil do que ilustrando as relações humanas e permitindo ao homem compreender seu semelhante". Depois, eu teria comentado que se pode fazer isso com imagens épicas ou líricas, que as líricas como as suas são mais difíceis de fazer-se e sempre tocaram-me muito mais.
O senhor não teria perguntado-me, mas eu teria encontrado uma forma de dizer-lhe que uma das suas fotos que mais gosto é aquela do menino na calçada carregando bem faceiro duas garrafas de vinho. Henry Cartier-Bresson, não falei com o senhor e nem dei-lhe o meu livro, mas hoje imaginei-me no lugar do menino daquela sua foto, levando os vinhos para o senhor, depois decidi escrever-lhe esta carta.
Feliz aniversario.

Sou o menino desta outra foto, feita pelo meu avô Bortolo.
Achutti

Achutti, Paris 21 de agosto de 1999.



NOVAS POESIAS INÉDITAS

DIE POESIE IST DAS ECHT
ABSOLUT REELLE. DIES IST DAR KERN
MEINER PHILOSOPHIE. JE POETISCHER, JE WAHRER.


A POESIA É O AUTÊNTICO REAL
ABSOLUTO. ISTO É O CERNE DA
MINHA FILOSOFIA.
QUANTO MAIS POÉTICO, MAIS VERDADEIRO.



Novalis.


VENDAVAL


Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!

Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!

Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.

Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles - teu pulso divida
Minh'alma do mundo!

Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!

Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?

Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!

E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.

E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!

Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!


16-2-1920.


Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
De adormecer.
Sou, sem lar, nem conforto, nem esperança,
Nem desejo de os ter.

E um choro por meu ser me inunda
A imaginação.
Saudade vaga, anônima, profunda,
Náusea da indecisão.

Frio do Inverno duro, não te tira
Agasalho ou amor.
Dentro em meus ossos teu tremor delira.
Cessa, seja eu quem for!


19-1-1931.


Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


2-8-1933.


Todas as cousas que há neste mundo
Têm uma história,
Excepto estas rãs que coaxam no fundo
Da minha memória.
Qualquer lugar neste mundo tem
Um onde estar,
Salvo este charco de onde me vem
Esse coaxar.

Ergue-se em mim uma lua falsa
Sobre juncais,
E o charco emerge, que o luar realça
Menos e mais.

Onde, em que vida, de que maneira
Fui o que lembro
Por este coaxar das rãs na esteira
Do que deslembro?

Nada. Um silêncio entre jucos dorme.
Coaxam ao fim
De uma alma antiga que tenho enorme
As rãs sem mim.


13-8-1933.


A lavadeira no tanque
Bate roupa em pedra bem.
Canta porque canta e é triste
Porque canta porque existe;
Por isso é alegre também.
Ora se eu alguma vez
Pudesse fazer nos versos
O que a essa roupa ela fez,
Eu perdeira talvez
Os meus destinos diversos.

Há uma grande unidade
Em, sem pensar nem razão,
E até cantando a metade,
Bater roupa em realidade...
Quem me lava o coração?


15-9-1933


Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando dispertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são
Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida.


28-9-1933.



Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.
Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!


5-9-1934



Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

7-1-1935.


Sou o Espírito da treva,
A Noite me traz e leva;
Moro à beira irreal da Vida,
Sua onda indefinida

Refresca-me a alma de espuma...
Pra além do mar há a bruma...

E pra aquém? há Cousa ou Fim?
Nunca olhei para trás de mim...


Fernando Pessoa

Florbela


Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida
Eu sou a que na vida não tem norte.
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida.
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber por quê ...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo prá me ver
E que nunca na vida me encontrou!


Tortura


Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...

Sonhar um verso d'alto pensamento,
E puro como um ritmo d'oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento ...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!


A Flor do Sonho


A Flor do Sonho alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína,

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! ...
Milagre ... fantasia ... ou, talvez, sina ...

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?! ...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh'alma
E nunca, nunca mais eu me entendi ...



Fanatismo


Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim" ..."



Realidade


Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho ...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho ...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada ...
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho ...

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci ...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei ... se te perdi ...

FLORBELA ESPANCA

euquero

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virar

terça-feira, junho 01, 2004

falando sério :))

a avenida (perigosa)... dos aliados
lembra hoje José Gomes Ferreira
que eu também gosto muito
e recordo um pouquinho



CABARÉ - 1933

I

Esta gente parece ter alma
porque a música está a tocar.

VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA! - 1931

VI

Enchi de pedras e de cardos
os caminhos da vida para mim...

E aqui estou eu agora neste trono de solidão,
braços vazios sem mundo,
a mostrar com orgulho a minha dor
- tão pequena afinal
para justificar as estrelas.

HERÓICAS 1936 - 1937 - 1938

(Garcia Lorca foi fuzilado.)

Terra:
endurece mais!

Recusa a abrir-te a cova
para esconder o Poeta
no silêncio das raízes.

Deixa-o apodrecer no chão
como uma bandeira de carne de remorsos.

(POESIA .I-Portugália
(Oferta do meu Pai em 1976)