Conservadora do ponto de vista formal, já que mantém os esquemas tradicionais de métrica e de rima, a sua escrita distingue-se pela singularidade de certas imagens e metáforas colhidas na área científica, bem como por um sóbrio e desencantado humanismo, que leva o poeta a hesitar entre uma perspectiva pessimista e uma solidariedade que uniria todos os membros da espécie humana.
Tal ânsia de comunhão não chega porém a destruir um profundo sentimento de solidão e de absurdo face às injustiças do mundo e aos múltiplos sinais da insensatez humana.
Gota de Água
Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.
Era complicado. Primeiro deitou os restos de comida no caixote o lixo. Depois passou os pratos e os talheres por água corrente debaixo da torneira. Depois mergulhou-os numa bacia com sabão e água quente e, com um esfregão, limpou tudo muito bem. Depois tornou a aquecer a água e deitou-a no lava loiças com duas medidas de sonasol e de novo lavou pratos, colheres garfos e facas. Em seguida passou a loiça e os talheres por água limpa e pô-los a escorrer na banca de pedra.
