sábado, julho 03, 2004

O Silêncio

Era complicado. Primeiro deitou os restos de comida no caixote o lixo. Depois passou os pratos e os talheres por água corrente debaixo da torneira. Depois mergulhou-os numa bacia com sabão e água quente e, com um esfregão, limpou tudo muito bem. Depois tornou a aquecer a água e deitou-a no lava loiças com duas medidas de sonasol e de novo lavou pratos, colheres garfos e facas. Em seguida passou a loiça e os talheres por água limpa e pô-los a escorrer na banca de pedra.
As suas mãos tinham ficado ásperas, estava cansada de estar de pé e doíam-lhe um pouco as costas. Mas sentia dentro de si uma grande limpeza como se em vez de estar a lavar loiça estivesse a lavar a sua alma. (...)

Sofhia de Mello Breyner Andressen

in Histórias da Terra e do Mar


Não procures verdade no que sabes
Nem destino procures nos teus gestos

Tudo quanto acontece é solitário

Fora de saber fora das leis

Dentro de um ritmo cego inumerável

Onde nunca foi dito nenhum nome

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