terça-feira, junho 01, 2004

Crianças : as primeiras vítimas da guerra


Crianças : as primeiras vítimas da guerra

Selvageria contra civis em mercado popular em Bagdá



BASRA

As crianças do Sul do Iraque aprenderam há uma semana a fazer o sinal da vitória com os dedos e a mostrá-lo para os soldados estrangeiros que ocupam suas cidades, mesmo que a batalha dos iraquianos por uma vida digna e segura ainda esteja longe de ser vencida.

Ao longo da estrada que liga Basra, no Sul do país, à fronteira, dezenas de crianças - algumas delas de três ou quatro anos de idade - se aglomeram nos dois lados da pista. Estão sujas, descalças e extremamente magras. Bebem água de poças e alguns têm a cara cheia de moscas. Muitas delas moram em casebres precários, feitos de tijolos e que se repetem por toda a estrada. Nesta região, a ajuda humanitária, que já havia custado a alcançar o país, está longe de chegar.

- Nossas crianças são a nossa maior preocupação neste momento. A falta de medicamentos e de condições sanitárias básicas está provocando sérias infecções - explicou o médico Zahr, que trabalha na cidade de Umm Qasr.

Com o passar dos dias, as crianças perderam o medo dos tanques e soldados. Em Safwan, cidade vizinha a Umm Qasr, os meninos sobem nos blindados, brincam com os coletes à prova de bala dos oficiais e pedem caramelos ou água.

Pela primeira vez em muitos anos, as estradas do Sul do Iraque estão cheias de estrangeiros que falam línguas que os menores tentam imitar: ''Hello! Thank you!'', repetem, sorridentes, quando os tanques passam. Muitos deles repetem frases ensinados pelos maiores ou pelos próprios soldados americanos: ''Bush, good! (Bush é bom)''.

Em meio aos tanques, famílias inteiras vagam sem rumo com seus filhos e seus poucos bens pelas estradas iraquianas afora, que se tornaram caóticas, com automóveis locais, tanques e blindados circulando em qualquer sentido e sem respeitar nenhuma norma.

A maioria deles vem de Basra, cidade onde começou o êxodo de famílias inteiras - que fogem de combates intensos entre os exércitos americano e britânico e as milícias que defendem o regime de Saddam. Segundo o Programa Mundial de Alimentação, há 1 milhão de crianças desnutridas cronicamente no Iraque, uma situação que se agravará rapidamente com a guerra, se não houver um esforço para chegar água e comida à região.

- Sobretudo água, porque se continuarem a beber das poças, elas ficarão doentes e não poderão ingerir alimentos sólidos - explicou Antonia Paradela, encarregada do programa.



Agencia Jornal do Brasil

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